segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

25 de dezembro é bem o dia em que Jesus nasceu

Natividade e Adoração dos Magos.
Ícone anônimo do século XVII, Museu Benaki, Atenas.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




O Natal católico é celebrado no dia 25 de dezembro. Mas há vozes, não raramente protestantes, falsamente ecumênicas ou anticristãs, que questionam a historicidade dessa data.

Elas arguem que na primeira metade do século IV a Igreja substituiu a celebração pagã Dies natalis Solis invicti (o deus persa/hinduísta/greco-romano Mitra?) por uma memória cristã do solstício de inverno (21-22 de dezembro).

E, portanto, não seria uma data histórica mas uma cristianização de uma festa pagã.

Essa posição é de molde a gerar confusão. E muitos gostarão ver a clareza do fundamento para comemorar a festa de Natal em 25 de dezembro.

Diferenças entre os calendários judeus e romano

A dificuldade tem azo na diversidade dos calendários.

Os romanos usavam o seu, o calendário juliano, que continha defeitos, mas que nós herdamos. Hoje é usado pelo mundo ocidental e pelos países civilizados após a sábia reforma do Papa Gregório XIII. Por isso é chamado de calendário gregoriano.

Mas, no tempo de Nosso Senhor, os judeus usavam um calendário completamente diferente, que era o calendário do Templo, aliás mais preciso que o romano daquela época.

Nos Evangelhos todas as datas são referidas usando esse calendário do Templo.

Quais são essas datas e ao que correspondem em nosso calendário?

O professor Pier Luigi Guiducci, historiador da igreja, esclareceu para a agência Zenit, as dificuldades da datação.

Mas, o professor apontou que a principal referência a uma data se encontra no Evangelho de São Lucas. Este Evangelho de Lucas traça a genealogia de Jesus até Adão, passando pela Anunciação e por seu nascimento virginal.

O arcanjo São Gabriel apareceu a São Zacarias e lhe anunciou que sua mulher Sara tinha concebido Très Riches Heures du duc de Berry, Musée Condé, Chantilly, século XV
O arcanjo São Gabriel apareceu a São Zacarias
e lhe anunciou que sua mulher Sara tinha concebido
Très Riches Heures du duc de Berry, Musée Condé, Chantilly, séc.XV
São Lucas narra que o anjo Gabriel anunciou ao velho sacerdote Zacarias que sua esposa Isabel, estéril e idosa, havia concebido um filho, destinado a preparar o povo para aquele que estava por vir (Lc 1,5-25).

E São Lucas acrescenta que esta miraculosa comunicação aconteceu seis meses antes da Anunciação a Maria (Lc 1,26-38).

Lucas sublinha que Zacarias pertencia à “classe [sacerdotal] de Abias” (Lc 1,5), e que a aparição de São Gabriel aconteceu enquanto “exercia a função de sacerdote na ordem de sua classe” (Lc 1,8).

Esse dado especifica uma data precisa de acordo com o calendário do Templo que os judeus conheciam perfeitamente.

A Lei Mosaica era muito exigente em matéria de dias e datas e os judeus observantes faziam questão de obedecê-las à risca.

Eles sabiam precisamente o dia que significavam e pautavam por eles os eventos fundamentais de sua vida, como sacrifícios, apresentação da criança ao Templo [prefigura do batismo], etc.

E no Templo de Jerusalém, os sacerdotes eram divididos em classes que deviam desempenhar os ofícios em 24 turnos (1Cr 24,1-7.19). Essas “classes”, se revezavam na ordem, porque deveriam prestar serviço litúrgico por uma semana, “de sábado a sábado”, duas vezes ao ano.

A versão hebraica do Antigo Testamento segundo o texto da Septuaginta indica que a classes sacerdotais, até a destruição do Templo (70 d.C) se revezavam conforme segue:

I) Iarib; II) Ideia; III) Charim; IV) Seorim; V) Mechia; VI) Miamim; VII) Kos; VIII) Abia; IX) Joshua; X) Senechia; XI) Eliasibe; XII) Iakim; XIII) Occhoffa; XIV) Isbosete; XV) belga; XVI) Emmer; XVII) Chezir; XVIII) Afessi; XIX) Fetaia; XX) Ezekil; XXI) Jaquim; XXII) Gamoul; XXIII) Dalaia; XXIV) Maasai.

E Zacarias pertencia ao “turno de Abia”, o oitavo.

Descobertas arqueológicas permitem precisar as datas

O arqueólogo escocês Sir William Ramsay, uma das maiores autoridades na matéria, escreveu que “Lucas é um historiador de primeira classe, não só suas afirmações sobre os fatos são dignas de fé... ele deve ser posto entre o grandíssimos historiadores”. Cfr “Luke the Evangelist”, Wikipedia.

A composição do Evangelho de Lucas aconteceu no início dos anos 60 d.C. Portanto São Lucas, escrevia quando o Templo ainda estava em atividade e todos os sacerdotes conheciam suas funções, classes e datas.

O rodízio referido se repetia duas vezes por ano e o evangelista não anota em qual dos dois turnos anuais Zacarias recebeu o anúncio do anjo.

Fac-símile dos documentos de Qumran.
Fac-símile dos documentos de Qumran.
Porém, em 1953 a especialista francesa Annie Jaubert, vasculhou o calendário do Livro dos Jubileus, [apócrifo hebraico do século II a.C.] e publicou os resultados no artigo: Le calendrier des Jubilées et de la secte de Qumran. Ses origines bibliques [em “Vetus Testamentum”, suppl. 3, 1953, pp. 250-264].

Por outro lado, Shemarjahu de Talmon, especialista da Universidade Hebraica de Jerusalém auscultou os documentos de Qumran que incluem o Calendário dos Jubileus.

Os resultados de Talmon foram publicados no artigo ‘The Calendar Reckoning of the Sect from the Judean Desert. Aspects of the Dead Sea Scrolls’ (em “Scripta Hierosolymitana”, vol. IV, Jerusalém 1958, pp. 162-199).

Os dois chegaram a conclusões convergentes. Assim Talmon foi capaz de precisar a sucessão da ordem de 24 turnos sacerdotais no Templo, no tempo de Jesus.

O estudioso judeu estabeleceu que o ‘turno de Abia’ acontecia a primeira vez, do dia 8 ao dia 14 do terceiro mês do calendário hebreu. A segunda vez acontecia de 24 a 30 do oitavo mês do calendário do Templo, período que correspondia à última semana de setembro no calendário romano.

Antonio Ammassari [‘Alle origini del calendario natalizio’ em “Euntes Docete” 45 (1992) pp. 11-16], mostra que São Lucas indicando o “turno de Abia” fornece a sucessão das datas históricas.

Cronologia da Encarnação e do Nascimento de Jesus

Desta maneira ficou esclarecido que o anúncio divino a Zacarias da concepção de São João Batista tem uma data histórica precisa: 24 de setembro do nosso calendário gregoriano do ano 7-6 a.C.

E o nascimento de São João Batista nove meses depois como escreve São Lucas (Lc 1,57-66), aconteceu o dia 23/25 de junho. É portanto, uma data histórica, explicou o professor Guiducci.

Natividade. Mestre do altar de Vyšší Brod, Galeria Nacional de Praga.
Natividade. Mestre do altar de Vyšší Brod, Galeria Nacional de Praga.
A Anunciação a Maria e a Encarnação do Verbo “no sexto mês” depois da concepção de Isabel registrada no evangelho de São Lucas (1,28), aconteceu portanto no dia 25 de março. E é também uma data que tem certeza histórica.

Cumpridos os nove meses chegamos a 25 de dezembro.

O professor Pier Luigi Guiducci, historiador da igreja, conclui que “podemos dizer que é histórico o nascimento do Senhor a 25 de dezembro, 15 meses após o anúncio a Zacarias, nove meses após a Anunciação a Maria, seis meses após o nascimento de João Batista”.

O professor judeu Talmon baseado no calendário do Templo, reconstitui a mesma sucessão de fatos que conduzem a 25 de dezembro.

Portanto a festa nesse dia não foi fixada ao acaso e está fundada na tradição judeu-cristã da Igreja primitiva de Jerusalém, escreveu Vittorio Messori: “Jesus nasceu verdadeiramente em 25 de dezembro”, em Il Corriere della Sera, 9 de julho de 2003.

A circuncisão e a apresentação ao Templo concordam

Guiducci acrescentou que a data da circuncisão [prefigura do batismo] no dia 1º de janeiro também é histórica. Pois a prescrição de Moisés ordenava ser feita dentro do oitavo dia do nascimento. E o oitavo dia após o 25 de dezembro é o 1º de janeiro.

Apresentação do Menino Jesus ao Templo. Jean Bourdichon (1457 -- 1521),  J.P.Paul Getty Museum, Los Angeles
Apresentação do Menino Jesus ao Templo.
Jean Bourdichon (1457 -- 1521),  J.P.Paul Getty Museum, Los Angeles.
“A circuncisão, oito dias após seu nascimento, é uma data histórica”, conclui. “Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno” (Lucas 2:21).

Mais ainda, a apresentação da criança no Templo e a purificação da mãe devia acontecer dentro do 40º dia após o nascimento segundo lei de Moisés. Segundo o costume, a mãe se apresentava ao templo com uma vela acesa.

E os quarenta dias se cumprem na festa de Nossa Senhora da Candelária.

“Então, quarenta dias após o nascimento, dia 2 de fevereiro, a Apresentação do Senhor no Templo, é uma data histórica”, diz também o professor.

O censo de César Augusto

O evangelho de São Lucas menciona o censo ordenado pelo imperador César Augusto, como sendo a época em que aconteceu o nascimento do Redentor.

Augusto nomeia Quirino governador de Síria. Jean Bourdichon (1457 - 1521), Paris, BnF, manuscrit NAF. 21013, folio 65o.
Augusto nomeia Quirino governador da Síria.
Jean Bourdichon (1457 - 1521),
Paris, BnF, manuscrit NAF. 21013, folio 65o.
Na Palestina, o censo foi efetivado por Quirino prefeito da Síria (7-6 a.C).

No site Católicos online podemos ler o erudito trabalho de Dom Estêvão Bettencourt O.S.B., que esclarece os vários censos ordenados naquela época em anos diversos pelo imperador César Augusto.

O autor foi um dos mais destacados teólogos brasileiros do século XX, monge da Ordem dos Beneditinos do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro.

Num erudito, denso e sábio trabalho ele ordena e esclarece as intrincadas dificuldades a propósito dos vários censos na Terra Santa e a ele remetemos os leitores interessados. Veja: O Recenseamento sob César Augusto e Quirino (Lc 2, 1-5)

Comparando com rica documentação tirada dos historiadores Tito Lívio, Suetônio, Flávio José, Strabo e de inscrições antigas o douto autor confirma a historicidade do texto de Lucas.

O imperador Augusto três vezes promoveu o recenseamento dos cidadãos de seu Império entre 28 a.C. e 14 d.C.

E Quirino, que foi governador da Síria desde o ano 6 a.C até 12 d.C, foi o executor de um desses recenseamentos nas regiões confiadas à sua jurisdição, para sujeição e lealdade a César Augusto

Precisando o ano do Natal

O recenseamento referido por São Lucas efetivou-se cerca de um ano antes da morte de Herodes. Isso aponta o nascimento de Cristo no ano 5 a.C.

No cálculo atual, seria outono de 1 a.C, mas segundo explicou o professor Pier Luigi Guiducci, a partir do século VI houve um erro de cerca de seis ou cinco anos da data real do ano do nascimento do Senhor.

Apresentamos a continuação um destaque gráfico com a explicação deste erro por Dom Estêvão Bettencourt OSB.

O ano do nascimento de Cristo esclarecido por Dom Estêvão Bettencourt OSB

No século VI o monge Dionísio o Exíguo ou Pequeno (+556), desejoso de calcular a data de Páscoa para os anos subsequentes, conjeturou o ano se baseando em datas históricas romanas e chegou ao ano que ele indicou como sendo o do nascimento de Cristo e o inicio da era cristã, ainda hoje em voga.

Dionísio, porém, enganou-se.

Herodes recebe os três Reis Magos. British Library Royal 1 D X, f2.
Herodes recebe os três Reis Magos. British Library, Royal 1 D X, f2.
Dionísio não levou em conta a noticia consignada por Mt 2,1: Jesus nasceu antes do falecimento do rei Herodes.

Ora Herodes passou doente os últimos meses de sua vida em Jericó, ao passo que os Magos ainda o encontraram em Jerusalém (cf. Mt 2,3).

Disto se conclui que a visita destes personagens a Herodes se deve ter dado, pelo menos, por volta do ano 5 a.C.

Note-se outrossim que Herodes mandou matar todos os meninos que tivessem até dois anos de idade: supunha, portanto, que Jesus pudesse ter nascido havia dois anos.

Admitindo que o monarca haja feito um cálculo largo, teremos que recuar um ano ou mais para além do ano 5º a. C., a fim de chegar ao ano em que Cristo nasceu.

É o que leva os melhores exegetas a admitir que Jesus tenha vindo ao mundo por volta do ano 6° antes da era cristã, ou seja, cerca de 748 da era de Roma.

(Autor: Dom Estêvão Bettencourt, PERGUNTE E RESPONDEREMOS 003 – março 1958)


Outras datas chaves solidamente definidas

A pregação de João Batista teria começado no ano XV do império de Tibério César (cerca de 27-28 d.C).

São Lucas também registra que “Jesus, quando começou o seu ministério, tinha cerca de 30 anos” (Lc 3,23). A relação entre a pregação dos dois é preciosa para acertar as datas.

A principal datação histórica sobre a vida do Senhor está centrada no evento-chave: a sua morte ocorreu às 15 horas da sexta-feira, 7 de abril de 30 d.C.

E isto é astronomicamente certo. Pois São Lucas nos ensina que antes de Nosso Senhor lançar um grande brado e entregar a alma “em toda a terra houve trevas”.

44. Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona.

A Ressurreição que aconteceu na madrugada de domingo, 9 de abril do ano 30 d. C.
A Ressurreição aconteceu na madrugada de domingo 9 de abril do ano 30 d.C.
45. Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio.

46. Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou. (São Lucas, 23, 44-45

E isto se deu por um eclipse de sol acontecido nesse dia e nessa hora, não tendo acontecido outro eclipse igual em algum outro ano próximo, verificável por cômputos astronômicos, inclusive digitais.

Define-se a partir daqui outras datas históricas, notadamente a Ressurreição que aconteceu na madrugada de domingo, 9 de abril do ano 30 d. C., data astronômica também certa, portanto.



segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Cientistas identificam mistérios na abertura do Sepulcro de Cristo

Na abertura do Santo Sepulcro alguns cientistas reportaram um 'suave aroma'  e os aparelhos funcionaram de modo anormal
Na abertura do Santo Sepulcro cientistas reportaram um 'suave aroma'
e os aparelhos funcionaram de modo anormal
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





continuação do post anterior: O Santo Sepulcro aberto, a Ressurreição de Jesus Cristo e a “ressurreição” da Igreja em nossos dias




Alguns arqueólogos que trabalharam na abertura do Santo Sepulcro disseram ter percebido fenômenos não habituais nesse tipo de investigações.

Segundo informou CatholicCulture.org, eles relataram que se aproximando da pedra original sobre a qual repousou o corpo de Cristo ungido por Nossa Senhora perceberam um “aroma suave”.

Esse seria comparável aos perfumes florais que também foram relatados em aparições de Nossa Senhora ou dos santos, como aconteceu no enterro de Santa Teresinha.

Os especialistas também contaram que os aparelhos eletrônicos ligados sobre o Santo Sepulcro começaram a funcionar mal ou pararam completamente, como se fossem afetados por forças eletromagnéticas não identificadas até agora.

O site “Aleteia” forneceu maiores informações.

As falhas nos aparelhos aconteciam quando esses eram colocados em posição vertical sobre a pedra em que repousou o corpo morto de Cristo até a Ressurreição.

As hesitações de uma responsável e a resposta da Providência

Marie-Armelle Beaulieu, diretora da revista Terre Sainte Magazine deu impressionante testemunho.
Marie-Armelle Beaulieu,
diretora da revista Terre Sainte Magazine
deu impressionante testemunho.
Marie-Armelle Beaulieu, diretora do site da Custodia Franciscana de Terra Santa e chefe de redação da revista da mesma Custodia Terre Sainte Magazine, foi uma das poucas pessoas, cientistas e responsáveis religiosos, que teve licença para visitar o sacro túmulo aberto.

Ela se mostrou cética quanto ao “odor suave” de que outros falavam. Para ela um odor facilmente pode ser resultado de uma autossugestão. Ela diz que não percebeu aroma particular algum.

Porém, durante a abertura anterior do sepulcro, que foi parcial e esteve a cargo do arquiteto Nikolaos Komnenos em 1809, o cronista da época também fez menção a um “doce aroma”.

Segundo Marie-Armelle, as pessoas que se interessam pelo Santo Sepulcro conhecem bem esse texto, e de ali tira a tese da autossugestão.

Porém, as informações nada dizem se os cientistas que estão trabalhando no Sepulcro sabiam algo desse antecedente histórico.

Não há dados que apontem católicos entre eles, sendo mais provável que fossem maioritariamente cismáticos, sem religião ou até agnósticos.

Não seria estranho que a graça tenha querido tentar toca-los com um sinal sensível, material, como os “aromas florais”.