segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Desenterrado o pórtico de acesso à cidade de Golias

O pequeno pastor Davi enfrenta o gigante Golias, século XII. Museu des Beaux-Arts de Cambrai, França.
O pequeno pastor Davi enfrenta o gigante Golias, século XII.
Museu des Beaux-Arts de Cambrai, França.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Gate, ou Get, a cidade de Golias, foi uma das maiores metrópoles da Filisteia, região contígua a Israel, hoje parte da faixa de Gaza.

Gate estava ocupada desde o século IX antes de Cristo. O Antigo Testamento também se refere a ela, só que com o nome de Golias.

O mesmo nome do gigante nela nascido e que o jovem Davi, futuro rei de Israel, derrubou com sua funda e em seguida degolou com a espada.

Os filisteus eram inimigos de morte dos israelitas e sua inimizade como que revive no atual conflito de Gaza. A História se repete e é mestra da vida.

Os egípcios foram os primeiros a falar dos filisteus, incluindo-os entre os “povos do mar”, levas de imigrantes que atravessaram o Mediterrâneo e desembarcaram no atual Egito.

Também aqui a História se repete.

Pentápolis Filisteia no ano 830 a.C.
Pentápolis Filisteia no ano 830 a.C.
Por fim, o faraó Ramsés III os derrotou e eles foram procurar terras costeiras perto de Israel, onde fundaram cinco cidades: Asdode, Ascalon, Ecrom, Gaza e, a maior delas, Gate [= Get]. As cinco formaram a Pentápolis Filisteia.

Os filisteus eram mestres na metalurgia, fato que conferia aos seus soldados uma grande superioridade.

Mas adoravam deuses perversos, entre eles Baal, mencionado na Bíblia como sinônimo do demônio e de cujo nome deriva Belzebu.

Baal era representado e cultuado como um deus cruel, com raios na mão pronto a fulminar e que exige sacrifícios humanos, sádicos ou obscenos.

Crianças de ambos os sexos eram queimadas em sacrifícios imoralíssimos, durante os quais os sacerdotes se feriam com facas e punhais, em ritos sadomasoquistas.

A ‘cultura da morte’ da época...
O deus-demônio Baal acostumava ser representado ameaçando com raios na mão.
O deus-demônio Baal acostumava ser representado
ameaçando com raios na mão.

Outros deuses eram Astarte – deusa da impureza e do erotismo, invocada pelo satanismo até nossos dias – e Dagon, metade homem, metade peixe, de significado fálico, cujo templo em Gaza foi destruído por Sansão.

Em 587 a.C. o rei caldeu Nabucodonosor – que conquistou Jerusalém e levou seus habitantes escravos para Babilônia – fez o mesmo com as cidades filisteias de Asdode, Ascalon e Ecrom (Gate já havia sido destruída 200 anos antes).

Os filisteus desapareceram da História. Ainda não se sabe como nem por que. 

Acreditam alguns que teriam se dissolvido e misturado culturalmente com os caldeus durante a sua estadia na Babilônia.

Nada restou da Filistéia, país dominado por falsos ídolos e governado por líderes do mal.

Aquele reinado prefigurou, sob muitos aspectos, o mundo moderno anticristão, ao qual talvez esteja reservada sorte semelhante.

Arqueólogos chefiados pelo professor Aren Maeir, da Universidade Bar-Ilan de Israel, julgam ter achado os fundamentos da impressionante urbe filistéia de Gate, de onde saiu Golias.

“Sabíamos que entre os séculos X e IX a.C. a cidade filistéia de Gate era uma grande aglomeração, talvez a maior da região naquela época. As monumentais fortificações sublinham quão ampla e poderosa foi a cidade”, disse Maeir ao site Live Science.

Os arqueólogos israelenses desenterraram um pórtico em Tell es-Safi (ex-Gate), utilizado durante 5.000 anos até 1948, quando uma aldeia árabe existente no local foi abandonada, disse Maeir.

Gate: um altar desenterrado e o chefe da expedição prof. Aren Maeir.
Gate: um altar desenterrado e o chefe da expedição prof. Aren Maeir.
Os arqueólogos escavavam o local desde 1899, mas só nas últimas décadas se deram conta da importância dos restos da Idade do Ferro ali encerrada.

As características da cidade que está sendo exumada coincidem com as narrações bíblicas acerca da histórica Gate da época dos reinos de Judá e Israel.

A equipe localizou a parte superior de uma porta monumental e das fortificações.

Mas elas são tão gigantescas que levará vários anos para desenterrá-las por completo, disse Maeir.

O topo, agora visível, dessas estruturas já permite conjecturar sua dimensão total. Uma fortificação tão poderosa provavelmente visava desanimar o Reino de Judá de qualquer empresa de expansão.

Perto da Porta Monumental foram encontrados, além dos objetos de ferro, um templo filisteu e peças de cerâmica típicas de seu culto, nas quais se pode notar a influência da cultura judaica.

Estátua do profeta Santo Elias no Monte Carmelo,
onde degolou 750 sacerdotes e profetas de Baal.
De fato, nos períodos de diminuição da fé, o culto de Baal penetrou entre os judeus decadentes.

Por obra da rainha Jezabel, esposa do rei Acab (entre 874 e 853 a.C.), o deus símbolo do demônio chegou a ser cultuado no Templo de Jerusalém.

Jezabel era fenícia de nascimento. Seu nome significa “Baal é marido de”.

Ela impôs o culto de Baal e de Astarte e  perseguiu os adoradores do verdadeiro Deus.

Contra a idolatria e a profanação, “como uma chama do fogo sagrado de indignação” levantou-se o Profeta Elias, cujo nome significa “o Senhor é Deus!”.

 Após vencer 700 cruéis sacerdotes de Baal em um duelo durante o qual fez descer fogo do céu sobre o altar do sacrifício no Monte Carmelo, Elias os degolou.

Jehu, seu seguidor, jogou Jezabel pela janela e seu corpo foi disputado pelos cachorros da rua, como Elias profetizara. (II Reis 9, 10)

Porém, a notícia da descoberta dos restos de Gate nos remete para o combate bíblico de David contra Golias.

Sobre o combate de Davi contra Golias, veja mais em: “Indícios arqueológicos e testes científicos da luta de Davi contra Golias”

Gate, no local: esquema do sítio arqueológico.
Gate, no local: esquema do sítio arqueológico.
Os arqueólogos acham que realmente descobriram a cidade natal do gigante do mal em Israel, segundo o Daily Telegraph, de Londres.

A expedição da Universidade de Bar-Ilan, conduzida pelo professor Aren Maeir, localizou os restos perdidos de Gate em escavações numa área dividida pelo conflito entre Palestina e Israel.

Segundo o Antigo Testamento, Gate foi uma das cinco cidades que formavam a Pentápolis filisteia na Terra Santa, de onde veio Golias (I Samuel 17, 4).

Para Louise Hitchcock, professora assistente da Universidade de Melbourne, Austrália, a descoberta do Pórtico de Entrada da cidade bíblica foi um dos maiores achados já feitos por um investigador.

Acredita-se que esse pórtico corresponde à descrição das portas mencionadas no I Livro de Samuel, cap. 21:

Davi fugindo da cólera de Saúl, recebe do sacerdote Aquimelec
a espada de Golias que o próprio Davi tinha ganho (ver I Samuel 21,9).
Arent de Gelder (1645 - 1727).
10. Levantou-se Davi e prosseguiu sua fuga diante de Saul, indo para junto de Aquis, rei de Get [=Gate].

11. Os servos de Aquis disseram ao rei: Não é este Davi, o rei da terra? Aquele de quem cantavam em coro: Saul matou seus milhares, mas Davi seus dez milhares?

12. Davi, impressionado com essas palavras, teve medo de Aquis, rei de Get [=Gate].

13. Simulou loucura diante deles, comportando-se como demente: tamborilava nos batentes da porta e deixava correr saliva pela barba.

A professora Hitchcock acrescentou que fez uma série de outras descobertas que convergem com essa teoria. Inclusive uma inscrição do nome Golias, de templos filisteus, altares e objetos rituais.